A cirurgia bariátrica é uma técnica de operação que objetiva uma perda significativa de peso. Ela é indicada para os quadros de obesidade grave, com IMC (índice de massa corpórea) igual ou acima de 40 ou igual ou acima de 35 com doenças associadas.
Entre as técnicas mais comuns desse tipo de cirurgia, estão o bypass gástrico e a gastrectomia vertical. No bypass, menos de 5% do estômago é mantido no trajeto do alimento, enquanto que os demais 95% são excluídos do trânsito do alimento. Isso faz acontecer uma série de mudanças hormonais, aumentando a produção de hormônios que diminuem a fome do paciente.
Já na gastrectomia vertical, o cirurgião remove 80% do estômago, que fica parecido com uma manga de camisa, por isso essa técnica também é conhecida como sleeve (‘manga de camisa’, em inglês). Nesse caso, o paciente come menos e fica mais saciado. A região removida produz um hormônio que aumenta o apetite.
Ao falarmos de cirurgia bariátrica, precisamos relembrar que a obesidade é uma doença, assunto do nosso primeiro artigo aqui no blog. Aumentos da pressão arterial, da glicose e gorduras no sangue são alterações que, em conjunto, definem a síndrome metabólica, podendo levar a infarto, derrames e tromboses. Apneia do sono, esteatose hepática (gordura no fígado) e osteoartrose (dor articular) são outros problemas decorrentes do excesso de gordura que vai se acumulando no corpo de quem sofre de obesidade. Um paciente com IMC igual ou maior que 40 pode ter a chance de morte aumentada em até 12 vezes, em razão dos problemas de saúde decorrentes do excesso de peso.
É possível emagrecer voluntariamente com tratamentos clínicos? Sim. Mas estudos demonstram que apenas 5% desses indivíduos com IMC igual ou superior a 40 conseguem manter o peso perdido por dois anos. Isso pode mudar, pois novos remédios mais modernos e potentes estão sendo lançados. Por essa razão, a cirurgia bariátrica acaba sendo indicada como uma opção terapêutica, mas sempre quando o tratamento clínico (dieta, medicamentos) não surtir efeito.
Para quem a cirurgia bariátrica não é indicada
- Em geral, para idosos, pois os riscos cirúrgicos são maiores (mas é analisado caso a caso).
- Pacientes com varizes esofágicas e gástricas, falência cardíaca, hepática, pulmonar ou renal também entram no grupo da contraindicação da cirurgia bariátrica.
- Pessoas que optam pela cirurgia por razões estéticas também não devem realizá-la. Para esse caso, existem dietas, exercícios físicos e medicamentos, quando necessários.
- Pessoas com quadros psiquiátricos graves e aquelas com resistência a tomar remédios também não devem realizar a cirurgia.
Há muitas coisas que precisamos saber antes de reduzir o estômago. Mas a principal talvez seja que a cirurgia bariátrica não é milagre nem será a solução para o excesso de peso sem o constante empenho do indivíduo. Isso posto, que tal mais alguns detalhes?
As expectativas precisam ser alinhadas.
- A expectativa de peso antes da cirurgia deve ser realista. Poucos indivíduos normalizam o peso corporal.
- Oito em 10 pacientes relatam mudanças relevantes na qualidade de vida.
- Algumas das doenças associadas à obesidade melhoram muito ou até desaparecem (muitos casos de apneia e de alterações do colesterol).
- Bons resultados dependem exclusivamente do paciente, pois ele terá de fazer o tratamento vitalício de forma adequada.
- A taxa de insucessos da cirurgia é de aproximadamente 20%.
- Complicações e efeitos adversos atingem 75% dos pacientes. Muitos desses efeitos ou complicações são de fácil resolução, mas podem ocorrer complicações mais sérias, como hérnias e obstrução intestinal.
- Um balanceamento entre efeito desejável e efeito adverso será feito para avaliar a necessidade de reoperação naqueles pacientes que não estão evoluindo bem depois da cirurgia.
- Maus resultados = perda insuficiente de peso, má nutrição, não correção de doenças associadas, ausência de melhora da qualidade de vida, perda e recuperação do peso perdido, manutenção de diabetes.
- A taxa de mortalidade no primeiro mês após a cirurgia é de menos que 0,5% em bons centros com cirurgiões experientes.
Uma vez realizada a cirurgia bariátrica, será necessário manter uma vigilância nutricional para o resto da vida, pois alguns nutrientes essenciais para a saúde, como o cálcio e várias outras vitaminas, devem ser repostos diariamente com polivitamínicos específicos.
Portanto há uma série de considerações a serem feitas sobre a cirurgia bariátrica, e uma equipe multidisciplinar formada por endocrinologista, cirurgião, psicólogo, nutricionista e psiquiatra será necessária para orientar o paciente antes de passar pela operação.