A associação dessas duas doenças eleva as estatísticas da contaminação
Muito já tem sido falado e escrito sobre a covid-19, mas ainda é necessário abordar esse assunto, afinal, estamos diante de uma doença que a cada dia desafia médicos e pesquisadores. Aqui na Clínica de Endocrinologia Mancini recebemos para tratamento muitas pessoas com obesidade, e é importante relembrar a associação do excesso de peso e o Sars-Cov-2, algo que tem sido observado pelos nossos colegas das UTIs que acolhem os pacientes infectados.
Obesidade e os pulmões
É essencial entender que o excesso de gordura abdominal prejudica a ventilação pulmonar, o que pode levar à redução da saturação periférica de oxigênio. A apneia obstrutiva do sono, aquela parada na respiração durante a noite, também é comum nos indivíduos com obesidade e pode, inclusive, trazer sérios riscos para a saúde, estando associada a hipertensão e eventos cardiovasculares. Vale lembrar que o tromboembolismo pulmonar (quando uma artéria entope, criando um coágulo que pode chegar aos pulmões) também é fator de risco para quem está acima do peso. E todos já sabemos: a covid-19 causa sérios problemas respiratórios.
Mas pessoas com obesidade fazem parte do grupo de risco para o novo coronavírus?
De acordo com estudos científicos, sim. A própria epidemia da influenza A que ocorreu em 2009 concluiu que pessoas com obesidade têm uma carga viral maior, com quadros mais graves. Além das questões relacionadas à associação obesidade x pulmão que falamos acima, é preciso lembrar que a superfície epitelial é o primeiro lugar onde esse vírus se hospeda. E a pessoa com obesidade tem uma superfície maior. Aqui mesmo no blog já falamos que estudos científicos afirmaram que a resposta imunológica a infecções respiratórias é mais deficiente (releia aqui).
Estudos confirmam alta prevalência de quadros graves em pessoas com obesidade infectadas pela covid-19
Um deles foi conduzido pelo UK Intensive Care National Audit & Research Centre (ICNARC), que avaliou as pessoas que chegaram nas UTIs do Reino Unido até 19 de março: 72% das que desenvolveram complicações graves ou fatais tinha sobrepeso ou obesidade.
Outra pesquisa, realizada nos EUA, mostrou que hipertensão arterial (72,6%), doença cardiovascular (50,8%) e distúrbios metabólicos como diabetes (45,3%) foram frequentes em pacientes com 65 anos ou mais. Cerca de 59% dos internados entre 18 e 49 anos, 49% entre 50 e 64 anos e 41% dos pacientes com 65 ou mais tinham obesidade.
Portanto não se pode negligenciar o perigo iminente. A obesidade é um problema de saúde pública que merece ser encarado, mas com máscara no rosto e olhos bem abertos.